segunda-feira

Faz sol cá dentro



Viu-lhe as mãos tremer enquanto recebia os bocadinhos de pão ora barrados com manteiga ora com queijo fresco. O seu coração de menina bateu mais forte quando o ouviu dizer que 25 anos antes lhe tinha escrito uns poemas. E se fosse possível voltar atrás? Olhou no fundo dos seus olhos e viu sonho e doçura.

há muito tempo que tinha o desejo de visitar Marvão. nos jornais já tinha lido sobre o desejo de candidatura a património da humanidade e sabia que tão nobre terra ficava encostada a espanha (terras de maus ventos e piores casamentos). por inúmeras razões nunca lá fora. por muitas outras razões era pouco provável que aqui chegasse tão cedo. primeiro fora madrid e a movida madrilena, depois paris a cidade luz e dos perfumes, acabei em marvão, depois de duas horas e meia de carro, depois de mais um dia de escritório, depois de mais umas não sei quantas "visitas" ao CITIUS. marvão sita na serra de s. mamede, a norte de portalegre equidistante de cáceres e badajoz, quase toca no céu.
o dia amanheceu cinzento, muito cinzento e eu levantei-me quase da mesma cor, depois de terminar uma longa batalha com a almofada, o colchão e a coberta (será a porra da idade que me faz ficar comichoso...). pequeno almoço tragado fugimos para o labirinto do empedrado e tropeçámos num imenso frio que mordia as orelhas e lambia as faces queimadas, bbrrrr...
que frio disseste e logo o céu em rio se transformou, corremos em direcção ao abrigo, trocamos de roupa e no entretanto trocámos de corpos, de beijos, de mãos. mais quentes e impermeabilizados vimos a chuva enregelar e as gotas de água eram agora farripas que dançavam e nos convidavam para a festa, demos corda aos pés e bailámos pela encosta acima, o salão era todo branco e a orquestra ainda uma menina. passeámos, dançámos, enquanto a neve caía. marvão vestiu-se de branco para nos dar os bons dias. bom dia amor, bom dia.
José Albuquerque

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