Quando partem, para além do abraço, seguido do braço no ar acenando até os ver desaparecer no fim da rua, fica a saudade. A vida corre, os dias fogem, o tempo passa. E a forma de sermos felizes estando distantes de quem amamos é saber que estamos sempre presentes no dia-a-dia de cada um de nós:
na hora de pôr a mesa, éramos cinco:
o meu pai, a minha mãe, as minhas irmãs
e eu, depois, a minha irmã mais velha
casou-se. depois, a minha irmã mais nova
casou-se. depois, o meu pai morreu. hoje,
na hora de pôr a mesa, somos cinco,
menos a minha irmã mais velha que está
na casa dela, menos a minha irmã mais
nova que está na casa dela, menos o meu
pai, menos a minha mãe viúva. cada um
deles é um lugar vazio nesta mesa onde
como sozinho. mas irão estar sempre aqui.
na hora de pôr a mesa, seremos sempre cinco.
enquanto um de nós estiver vivo, seremos
sempre cinco.
José Luís Peixoto, A Criança em Ruínas



2 comentários:
Estamos sempre presentes. Quantas vezes por dia, ao vermos ou fazemos algo, nos ocorre como veriam ou fariam os que não estão ali connosco? A ausência é essencialmente física. De resto estão cá dentro, pegados a nós.
Sempre.
Enviar um comentário